domingo, 25 de junho de 2017

Vazio...

Ela olhava tudo atentamente. Nunca se achou curiosa.
Mas sempre observava. O que as pessoas diziam (e como diziam), o que elas faziam, como andavam, como sorriam, o tom da voz... "O que será que aquela pessoa está pensando? Por que será que está sorrindo? Qual a dor dela? Quais angústias carregam? Como será a vida dela?", pensava.
Queria entender a dor dos outros, mas não entendia a própria dor (como se dor precisasse ser entendida).

Ela mesma carregava em si uma dor enorme, um buraco. É como se fosse literalmente um buraco. Um buraco mesmo. Um vazio enorme que não sabia de onde tinha saído (e, caramba, como um vazio pode pesar tanto?).

Apesar de tudo, o sorriso raramente saía do seu rosto.
Algo dentro dela a fazia ficar de pé. Algum motivo havia para viver.
Mas qual era esse motivo? Ela não sabia...

Ao contar a alguém sobre sua dor, lhe disseram: "Engraçado é que você não aparenta sentir essa angústia, esse desespero que me diz sentir". E aí veio nela aquela vontade de desabar e derramar ali todas as lágrimas que carregava.
Mas não chorou.

(13/10/2014)

sábado, 24 de junho de 2017

Do que não se pode ver

Das coisas que não se pode ver
E nem sempre se pode explicar...
Mas quem sente só sabe dizer
Que tamanha dor não sabe curar

Quem compreende acalma
A dor de apenas existir
Quem não entende, desalma...
Não lhe cabe me reprimir

Não julgues nem causes pudor
Ao que não podes sentir
Só quem sente sabe a dor
Daquilo que não sabe exprimir


Sad Christmas

Quando sua vida é boa e não tem motivos (aparentes) para ficar triste, e ainda assim fica.
E então vem a tristeza de ficar triste sem motivo...
Vem a vergonha, a tristeza, a tristeza, a tristeza...

(se existem motivos que não são motivos para mais ninguém, logo não consideram motivos.
Porque, afinal, todo mundo quer julgar os motivos dos outros...)

25/12/2016


Entendi que minha sina é andar sozinha.
Quem caminha ao meu lado logo cansa.
Descansa ou se apressa, me deixando pra trás.

Doi na alma o abandono.
Não proposital talvez, mas real.

E um dia, eu mesmo me canso
- desse vai e vem de gente, que no final sempre vai.
E me conformo com a solidão,
Que ainda parece doer menos do que esperar.


A dor da espera...
A espera sempre é longa. Seja 1 minuto, 1 hora, 1 dia.

25/12/2016

domingo, 25 de dezembro de 2016

Sanidade


Alegar insanidade é mais fácil que admitir as próprias fraquezas.
Por que a vergonha de ser fraco?
Na verdade, é porque é preciso muita força para aceitar as fraquezas.
E é uma certa incoerência (ainda coerente) que - talvez - só os fracos (ou fortes) possam entender...

12/09/2015

Claro / escuro

Caminhar sem medo do escuro e da claridade.

Porque é preciso luz para atravessar a escuridão.

Mas na luz, vemos todos os detalhes, então dá medo de iluminar o caminho.
Vemos as pedras, vemos as trilhas, os obstáculos... mas também nos vemos como somos...
Dá medo...
Por que o medo de ver?
Por não gostar do que podemos ver? Mas deixar de ver não impede que aquilo exista...

Que eu queira me abraçar por inteira!
Com todas as pedras, os caminhos tortos e as tempestades.
Porque viver de metade não é viver, é esperar.
Esperar algo que não vem, que não tem.
É não querer ver de verdade.
É ver metade do que se tem,
É viver metade do que se é.


12/09/2015

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cordel (2008)

"Filha, tu vais ficar sozinha assim"
Já disse uma vez minha grande sábia.
Rebelde, quis voar como uma águia,
sem crer naquela que cuidou de mim.
Mesmo sabendo que teria fim,
mas sem saber o que vinha na frente,
encontrei uma paixão de repente.
Com o coração feito tamborim,
sem saber, me roubou parte de mim
aquele tal alguém tão diferente.

É tão difícil acreditar agora,
pois, saiba, me encontro muito perdida,
e não sei mais o que faço da vida!
A saudade não tem dia nem hora,
e meu ser antes forte, agora chora:
- o alguém já não me guarda no peito!
Portanto, meu coração com defeito,
entrego ao mar, ao céu e, tempestade:
lhes peço, mate minh'alma e a saudade
pois o veneno já não faz efeito.


Meu amor, quero dizer
sinto que acabou assim,
que não goste mais de mim.
Sei que tenho que entender:
nunca o que quero vou ter.
Se quero você comigo,
mas já não sou seu abrigo,
não precisa continuar.
Meu rumo vou procurar
e te guardar como amigo. 


Se não quer mais conversar
já sei que não me quer tanto,
pois mesmo ao me ver em pranto
não veio me acalentar,
então não vai encontrar
o melhor que em mim há.
Se isso quer, assim será.
Só quero que encontre a paz.
Saiba: o bem que me faz,
eu sei que ninguém fará.

Juro que não mais te chamo:
não precisa mais ligar
se não tem o que falar.
Sabe, de tudo eu reclamo,
mas é porque eu te amo
Não aguento essa maldade
que me faz a tal saudade
E então por doer tanto
faço da tristeza canto
debaixo da tempestade


Livia K.
Em 2008/2009